quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Ironic - Alanis Morisette

Cansada daquela história repetitiva de todos os natais, Vanessa decidiu que este seria diferente. Quando deu dez e quinze da noite, ela pegou sua bolsa e despediu-se. - Mãe, to indo... - Como assim? Indo pra onde, Vanessa? - Vou para praia... É a duas quadras daqui e esse ano quero passar o Natal do meu jeito! Saiu e fez exatamente o que tinha dito. Sentou-se na areia fofa da praia, tirando as sandálias e abraçando os joelhos contra seu corpo. A brisa fresca balançava seus cabelos, enquanto ela olhava para o brilho que a lua fazia no mar. Estava destraída, pensando, quando ouviu: - Se você está esperando o Papai Noel, é melhor desistir. Ele não gosta muito de praia. A areia fica grudando naquela roupa vermelha aveludada dele. Ela reconhecia muito bem aquela voz e aquele tom brincalhão, ao ponto de nem precisar virar-se para ver quem era. - Como você me achou? - disse asperamente, tentando esconder a felicidade que sentia. - Fui na sua casa te entregar seu presente e sua mãe disse que você estaria por aqui. - Humm... - Você devia se animar! É Natal! Ela não respondeu, apenas olhava para frente. - Bom, seu presente... Quer agora? - ele disse. - Pode ser... - ela manteve o olhar no mar. Ele entregou a ela uma rosa. - É simples, mas... Ela apenas sorriu. - Er... Vou indo. Você queria ficar sozinha. - Não, Luan, espera! - ela apressou-se em dizer - Fica. Fica comigo. Eu gosto de estar com você. Ele sentou-se novamente. - Feliz Natal, Van! - Feliz Natal, Lu! Abraçaram-se e depois passaram o resto da noite conversando de forma divertida sobre os mais diversos assuntos, como sempre fizeram.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

De avô para neto

Olhos que falam Teus olhos falam, falam docemente na linguagem do amor, embevecida, trazendo crença ao coração descrente, e inspiração à alma combalida. Ao escutá-los sinto apego à vida, com a sensação de um náufrago iminente, ante um farol de luz enriquecida pela esperança em brilho intermitente... Teus olhos são magia da quimera, que me conduz à loura primavera, entre visões de flores e matizes, quando os escuto, cheios de ternura do seu silêncio, a murmurar-me a jura que com os lábios loquazes não me dizes. João Ribeiro de Almeida Neto Essas palavras, há tanto tempo escritas, sempre farão sentido para alguém, não importa quem e nem quando... Mas, hoje, o saudoso autor deve estar contente (ou triste, depende do ponto de vista), onde quer que esteja, por ver que elas foram compreendidas por seu neto.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Photograph - Nickelback

Estava arrumando suas coisas. Já havia tempo que sempre tirava um dia das férias para isso.

Depois de conferir alguns documentos, colocando-os na pilha de coisas a serem mantidas, avistou uma caixa.

Já não lembrava o que era guardado ali, então foi até ela e a abriu.

Encontrou uma série de fotografias de sua juventude.

É... Fazia tempo! Devia ter no máximo uns 25 anos nas fotos, metade do que tem hoje.

Foi lembrando-se de momentos vividos, e a saudade foi batendo.

Até que chegou a uma foto que fez seu coração parar por um ou dois segundos e depois acelerar descompassadamente.

Ela estava naquela foto. Mas como podia, depois de tantos anos, ele ainda sentir isso quando a via em uma fotografia?

Notou que ela aparecia em muitas outras fotografias que ali estavam, e cada vez que a identificava, a reação de seu coração era a mesmo.

Seus pensamentos começaram a voar para aquela época longínqua.

Lembrou-se, com carinho e inquietação, de tudo o que vivera com ela: os momentos felizes, os outros, nos quais precisou do conforto dela, e ela do dele, sentimentos e conflitos.

Uma lágrima percorreu seu rosto, e quando percebeu, estava no bar onde a galera costumava se encontrar.

Sentados estavam o Rodrigues, o Jamanta, a Suzy, o Renato e a Nandinha. Em pé, e um pouco afastado da mesa, estavam ele, na época ainda sem os óculos, e Isabel, a garota da foto, aparentemente discutindo.

- Leandro, para de falar bobagem!

- “Leandro”?? Se me chamou assim é porque a coisa tá feia...

- Pois é, Leco – ela fez questão de enfatizar o apelido do rapaz – é uma decisão séria que pode mudar o rumo de nossas vidas.

- Mas o que você quer que eu faça? Deixe de ir morar em Campos pra ficar aqui com você? Morando onde? Embaixo do viaduto? Sem emprego e tudo o mais? Você é que podia vir comigo!

- Não, não posso! Minha vida está toda aqui... Não posso abrir mão de tudo pra me arriscar com você...

- Pois a decisão é sua. Eu não tenho condições de ficar, e você sabe disso. Se quiser vir comigo, sabe que podemos conseguir. Eu sou completamente louco por você. Estarei amanhã te esperando na rodoviária.

Ao terminar de falar, virou-se e foi embora, mais para esconder dela que estava chorando do que por vontade de ir mesmo. Estava chateado por ser um "risco" para ela.

Ela ficou parada por alguns minutos. As lágrimas correndo pela pele macia. Não sabia o que fazer.

Leandro já estava de volta ao seu quarto, décadas depois. Segurava o choro, enquanto imaginava como tudo poderia ter sido diferente. Recordou o dia do seu embarque. Todos os amigos foram se despedir, mas ela não apareceu.

- Foi a escolha dela e eu já aceitei isso... – disse baixinho.

A verdade é que, mesmo tendo casado, tido filhos, ele nunca se esqueceu dela.

E a prova estava ali, na sua frente: uma simples imagem dela era capaz de mexer com ele, mesmo tantos anos depois.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Time Is Running Out - Muse

O barulho gostoso da chuva fina batendo na janela era um convite para o sono tranqüilo. Mas a fresta de claridade que entrava pela janela ia direto ao seu rosto. Mesmo assim, acordou feliz, procurando-a ao seu lado, na cama. Mas ela não estava lá. Ainda sonolento, ele sentou-se e chamou-a: - Cris?! Como resposta, obteve apenas o silêncio ensurdecedor de sua casa. Foi aí que começou a ficar assustado. Não... Não podia ter sido tudo um sonho. Estava tão claro em sua mente. O jeito dela, a voz dela chamando-o da maneira que ele tanto gostava. Ainda sem acreditar, levantou-se e foi até o banheiro, e, antes de escovar os dentes, podia jurar que ainda sentia o gosto doce da boca dela. Voltou ao quarto, em uma inútil tentativa de encontrá-la deitada em sua cama, coberta pelos lençóis, com sua beleza inexplicável. Ao ver a cama vazia, fechou os olhos, desapontado, e, ainda de olhos fechados, lembrou-se de cada momento, cada sorriso, cada olhar. Podia ainda sentir o cheiro dela, a maneira como a mão dela o acariciava. Era tão real! Como poderia ter sido um sonho? Inconformado, cruzou o corredor e a sala, em direção à cozinha, sentindo-se só, sem nem ligar para o latido amigo de seu cão.