segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Vida pela janela

Da janela do quarto ele vê a rua: vazia, iluminada pela lua e pela lâmpada do poste. Vê a casa dos vizinhos apagadas. Sente a brisa balançar seus cabelos, entretanto, desta vez, não se incomoda em arrumá-los. Vê o cajueiro e a goiabeira do outro lado da rua que, devido a tal brisa, balançam suas folhas, produzindo um farfalhar que, por ser o único barulho na madrugada, parece conversar com o rapaz, sussurrando aquele nome que o persegue. Olhando para o alto, ainda através da janela, ele vê o céu, numa mistura de azul escuro com cinza, evidenciando alguns pontinhos brilhantes, as estrelas, além da tímida lua, que aparece por trás de algumas nuvens. Ele viaja na infinitude desta cena, imaginando o quão distante essas estrelas estão. Muito distantes. Para ele, tão distantes quanto... Ela. A luz do luar entrava pela janela, iluminando a cama, lugar no qual, de forma serena e inocente, ela dormia. Sem nem imaginar que, longe dali, ela se fazia presente nos pensamentos de alguém. Alguém que olhava a vida pela janela, esperando a hora de encontrar a moça novamente.

sábado, 3 de outubro de 2009

Carta ao Amigo Cunha

Em resposta à "Leituras sobre a sociedade. [XI]" Caro amigo, Antes de tudo, queria destacar o respeito e a admiração que desenvolvi por você nos últimos 18 meses e a alegria de dividir a mesma "família" contigo. Desta forma, para o azar dos que gostam de uma briga, minha intenção aqui não é gerar polêmica e nem discordar do que você escreveu, pelo contrário, quero parabenizá-lo pela forma como demonstrou sua opinião e ressaltar que compartilho dela, apesar de minhar ressalvas. A primeira coisa a falar é a respeito do carisma, esperança e generosidade que você, citando Colombo, classifica como "beirando à burrice". Discordo. Para mim está mais próximo da malandragem, também citada por você. Me parece que todo o discurso da comitiva brasileira se baseou - deixando de lado a questão da beleza natural, que foi muito bem explorada - nesse carisma e generosidade do povo brasileiro, em especial do carioca, e o fez de forma premeditada (ou seja, usando da malandragem), já que se contrapõe à seriedade americana, européia e japonesa, sabendo que estas características "nativas" - para usar seu vocabulário - são muito bem vistas pelos outros países e, convenhamos, combinam bastante com o chamado "espírito olímpico". Acredito que o brasileiro já aprendeu a usar a seu favor esta imagem que tem. Outro ponto a ser ressaltado é quando você, com a ironia que lhe é, como diria Victor Lamanna, peculiar, classifica o Brasil como "esse país sério no qual nós vivemos". Maneira perfeita de dizer que somos um país descontraído, se é que me entende. Mais adiante, você descreve a reação do "nativo" diante de alguma conquista: comemora, festeja, muitas vezes sem nem saber do que se trata. Sou adepto da idéia de que o homem reage em sua mais pura natureza diante de fortes emoções, então, essa reação do "nativo" seria, para mim, algo positivo. Demostra que eles - nós - são brasileiros e "vestem a camisa" (ou, dependendo do grau das reações, até tiram a camisa!), mesmo que não façam idéia do que se passa. Como apaixonado por esporte que sou, não tenho problemas quanto às regras da maioria deles, entretanto, acredito que torcer (e posteriormente comemorar ou não) é uma maneira de gerar conhecimento sobre tal esporte. Falo porque foi assim que eu conheci as regras de muitos deles, de rugby à decatlon, passando pelo tênis, que você citou e que virou um dos meus favoritos (de assistir! Minha habilidade em tênis resume-se à amarrar o cadarço. E é semelhante com a dos demais esportes, para o meu desespero!). Prometo não fazer mais uso do esporte que sou mais habilidoso (o "trocadilhos sem graça") no resto da carta. E você sabe o quão habilidoso eu sou nisso! Mas, ainda como amante do esporte, expresso que estou muito feliz com a escolha do Rio para cidade sede das Olimpíadas de 2016. Apesar de não achar que temos estrutura para receber uma Copa do Mundo e uma Olimpíada, meu lado apaixonado sempre falou mais alto que o racional neste caso, o que sempre me fez ser a favor da realização de ambos aqui no Brasil, no Rio mais especificamente. E aproveito para dizer que estarei entre os "ingênuos" (mesmo sem ser ingênuo quanto a isso) que falarão "que tinham fé de que as coisas melhorariam". No campo da política, concordo explicitamente com tudo o que você diz, só que, de minha parte, não esquecerei de tudo e voltarei ao ponto de partida quando ouvir o Galvão Bueno gritando, por dois motivos: primeiro porque espero que até 2016 ele, já com idade mais avançada, seja apenas espectador; e segundo, porque, caso ele ainda seja narrador, Sportv e ESPN servem para isso! Finalizo dizendo que tudo realmente aponta que as Olimpíadas de 2016 serão realizadas em um território desestruturado, que sofre com a violência e o descaso das autoridades locais, que voltam suas atenções para seus interesses próprios. E se hoje me falassem que eu poderia escolher qualquer lugar do mundo para morar, eu já teria minha resposta: Rio de Janeiro. Porque, apesar de tudo isso, eu sentiria falta da beleza que aqui se encontra, não só na natureza, mas também na malandragem do carioca, no jeitão desligado de tudo, mas ao mesmo tempo atento ao seu lado. Sentiria falta da capacidade do carioca de dar um sorriso a qualquer hora do dia, do ritmo, nem tão corrido quanto dizem que é o do paulista, nem tão paradão quanto dizem que é o do baiano. Escolheria o Rio porque sou, acima de tudo, flamenguista, carioca e brasileiro. E por mais que achem ridículo, tenho orgulho disso. Porque, afinal de contas, mesmo com todas as coisas negativas, o Rio de Janeiro continua lindo. Um grande abraço e lembranças à minha afilhada, Daquele que está pronto para ser atacado em um post futuro, Rafael Brasil

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Herança

"Espero que a inspiração que emoldura cada verso traduza com exatidão meu pequenino universo." Esses versos não são meus, entretanto, sinto-me no direito de transcrevê-los aqui, uma vez que o autor expressa neles algo muito semelhante ao que eu sinto hoje. O engraçado é que esses versos estão em um livro que este autor lançou em 1995 e eu, na época com 7 anos não era capaz de compreender o que no livro estava escrito. Logo no início dos anos 2000, o autor veio a falecer, e eu, ainda bastante jovem, mantinha-me incapaz de entender o que ele dizia em seu livro. Hoje, devo confessar que, por maior que seja a distância entre o autor e eu, converso com ele e recebo conselhos através de seu livro, o qual já me é compreensível e causa muita admiração. Uma admiração que me fez ousar e tentar escrever versos como ele fazia, mesmo sabendo que nunca chegarei aos pés do que ele foi. Escrevi para alguém e, de onde estiver, o autor dos versos lá de cima escritos deve estar rindo de meu "atrevimento". Mas não é disso que quero tratar agora, e sim de uma homenagem que presto a este autor: Passaram anos e você não vejo Só em retratos, quase amarelados, Hoje, lhe escrevo expressando o desejo Que ainda estivesse aqui, do nosso lado. Mas em seu livro ainda se faz presente Essa pessoa a qual admirei E não consigo me sentir contente Pois não sei se isso a ti já confessei. João Ribeiro de Almeida Neto. Merece que diga o nome completo Afinal, sempre foi o anfitrião. Meus versos simples, métrica forçada, Querem dizer a ti, de forma ousada: Saudades sinto do VOVÔ JOÃO! E que meu avô continue me iluminando para que eu escreva mais versos, em busca da inspiração. Mas esses não postarei aqui!